O ano é 2023, já são 46 anos desde a instituição do Dia Internacional da Mulher, consequência de uma luta por direitos e dignidade que acredito não ser possível datar seu início, mas com certeza, tem muito mais de 46 anos e está longe de acabar.
Esse texto vem para chamar atenção ao nosso espaço de fala, a importância de estarmos sempre munidas de informação e a forma como tentam deturpar as nossas solicitações, digo, as pautas que gritamos incessantemente para que sejam debatidas.
Como mulher que luta pelos nossos direitos, me sinto cansada muitas vezes, por além de sofrer a tal da “batalha diária” e ser chamada de guerreira, como se fosse o maior elogio do mundo. Na verdade, me lembra que devo estar sempre lutando para sobreviver e não simplesmente viver, e ainda ter que convencer outras pessoas da importância das nossas vitórias por igualdade e respeito.
Mesmo cansada, me apego ao meu passado e nas falas que já fiz, cheias de machismo e preconceito, pelo modo que fui ensinada a ser pela sociedade. Penso na quantidade de mulheres que mesmo cansadas, como me sinto às vezes, me contaram suas histórias, derramaram lágrimas, às vezes de tristeza, outras de orgulho da jornada, me despertando curiosidade e um desejo imenso de não apenas entender, mas me engajar, ajudar e fortalecer cada dia mais essa rede, rede de apoio, rede de comunicação que somos, ou deveríamos ser. Foram e são necessárias muitas conversas, muito estudo e muita empatia para entender que o que me cercava e cerca, é uma parcela tão minúscula de tudo que precisa ser colocado no lugar. E claro, como toda mulher, tenho minhas próprias histórias de assédio, superação, ganhos e perdas.
Estar atenta às pautas que estão sendo debatidas em prol dos nossos direitos é fundamental para que possamos falar, responder e explicar sobre elas. De forma que consigamos falar não apenas com as que “pensam como nós”, mas também nos comunicarmos com aquelas que pensam diferente, especialmente no momento que estamos vivendo no Brasil, com uma divisão tão extrema de ideologias, uma verdadeira disputa de quem está certo ou errado, e uma enxurrada absurda de fake news, que acabam convencendo e desinformando um número exorbitante de pessoas que se apegam a informações falsas, por essas serem condizentes com suas crenças e seus desafetos.
Sobre informar-se, você tem estado atenta aos assuntos debatidos nos centros de poderes do país, como na Câmara dos Deputados? Você se lembra em quem depositou seu voto de confiança nas últimas eleições e sabe como ela vota os projetos que afetam a causa feminista? É possível e necessário acompanhar os projetos que estão tramitando e que tenham a sua leitura na íntegra, não apenas acessando as manchetes publicadas em redes sociais. Isso para que possamos debater falas deturpadas do que realmente estamos tentando conquistar. Você que me acompanha até aqui, sabe explicar o que é identidade de gênero? Sim! Identidade, pois ideologia de gênero sequer existe e é uns dos assuntos mais abordados pela direita e extrema-direita, para convencer as pessoas de que essa ideologia existe e é imposta às crianças, estimulando-as a se tornarem trans, gays ou lésbicas. Quando, na verdade a identidade de gênero diz respeito a como a pessoa se identifica, e independente de seu sexo, deve ser tratada e respeitada do jeito que ela se vê.
Falando em sexo, em 2005 foi lançado, pelo Governo Federal, um documento chamado “Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos”, apresentando as diretrizes do Governo para garantir os direitos de homens e mulheres, adultos(as) e adolescentes, em relação à saúde sexual e à saúde reprodutiva, dando destaque, para o planejamento familiar. Entre as direitos expostos no documento, temos o acesso a preservativos, contraceptivos e o DIU, e o mais importante, acesso à educação sexual, que não faz nenhuma referência a instruir crianças e adolescentes em como o ato sexual deve acontecer (como pregado pelos conservadores), tratando-se do planejamento familiar, assistência pré-natal e humanizada à mulher em situação de abortamento e no pós-abortamento, climatério, violência sexual e doméstica, urgências e emergências obstétricas e atenção humanizada e baseada em evidências científicas ao parto e ao nascimento, importância da dupla proteção e esclarecimentos sobre a legislação federal existente em relação ao planejamento familiar.
Em 2020, uma proposta na Câmara dos Deputados que garantia os serviços de saúde sexual e saúde reprodutiva, já exemplificados acima, essenciais para a proteção de mulheres vítimas de violência, foi acusada de garantir o acesso a serviços de aborto, gerando grande repercussão e várias solicitações para mudança desses direitos já conquistados, pedindo a retirada de alguns termos nas propostas parlamentares, como “direitos reprodutivos”, justamente em um momento delicado como a pandemia em que esses direitos que deveriam permanecer assegurados, foram divulgados de forma errônea como “o livre arbítrio para o aborto”, este que já é um direito previsto na legislação brasileira em casos de estupro, risco à vida da mulher ou anencefalia do feto.
Essas situações foram citadas para explicar como direitos extremamente importantes são pautados e divulgados e que precisamos estar atentas para desmentir propostas que nos levem ao retrocesso.
As pessoas tendem a imprimir, naturalmente, em suas atitudes no seu meio social, sua cultura e vivências, e buscam por assuntos que estão correlacionados. É nesse momento que coloco o grande alerta sobre como devemos e precisamos estudar, escutar e entender a forma de vida de outras mulheres, daquelas que não tem nenhuma ligação com a nossa realidade, pois assim, conseguiremos lutar por direitos que sejam para todas e não apenas para algumas de nós. E mais que informar-se, precisamos comunicar, levar o conhecimento adiante, abrir os olhos, ser luz para quem não conseguiu ver esse feixe de conhecimento à sua frente.