Com a chegada de Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio e à promoção da saúde mental, torna-se urgente refletir sobre as condições enfrentadas por mulheres na política. Ainda sub-representadas nos espaços de poder, nós mulheres, enfrentamos pressões únicas: machismo institucional, violência política e isolamento, fatores que comprometem nosso bem‑estar psicológico e, muitas vezes, as levam a desistir de representação pública.
A violência de gênero, em todas as suas formas, já é reconhecida como um grave problema de saúde pública. Pesquisas apontam que mais de 40 % das mulheres vítimas de violência desenvolvem transtornos psiquiátricos, como depressão e transtorno de estresse pós‑traumático. O uso de medicamentos indutores do sono, por exemplo, é 2,4 vezes maior entre mulheres que vivenciaram violência psicológica, física ou sexual.
No ambiente político, esse quadro se agrava. A violência política, que inclui ataques online, deslegitimação, assédio moral e discriminação baseada em gênero, tem efeitos devastadores. Um estudo sobre misoginia digital nas eleições de 2022 constatou que candidatas que receberam mais ataques online reduziram significativamente sua atividade nas redes sociais na semana seguinte, silenciando sua voz no debate público.
A violência contra a mulher, seja no âmbito doméstico ou institucional, produz efeitos cumulativos que atingem profundamente a saúde emocional. A chamada “vitimização secundária”, quando sistemas de justiça e instituições minimizam ou culpabilizam a vítima, agrava o trauma e desencoraja a denúncia, ampliando o sofrimento psíquico. Ciclos de violência impõem ainda sentimentos como vergonha, impotência, ansiedade, depressão e ideação suicida.
A conjunção de violência psicológica, misoginia institucional e ausência de apoio pode levar mulheres a abandonarem seus projetos políticos. Em um contexto de pandemia de depressão e ansiedade já mais frequente entre mulheres, essas obstáculos estruturais tornam o espaço político ainda mais hostil.
Setembro Amarelo é o momento para ampliarmos o olhar à saúde mental das mulheres na política. É preciso:
- Reconhecer a violência política como fator de risco psíquico;
- Fortalecer redes de apoio, como aquelas fomentadas por eventos como o Lidera+, que empoderam e preparam mulheres para enfrentar os desafios com comunidade e resiliência;
- Cobrar ações institucionais de prevenção e acolhimento, como centros de referência, atendimento psicossocial e políticas contra assédio político;
- Promover narrativas de valorização, que afirmem o valor da participação feminina e incentivem a permanência de mulheres no poder.
Loreny Caetano
Secretária estadual do Solidariedade Mulher (SP)