As eleições de 2024 marcaram um momento decisivo na trajetória política do Brasil, especialmente no que tange à presença de mulheres negras nas candidaturas. Um avanço significativo, mas ainda refletindo um cenário de desigualdade e desafios profundos.
De acordo com os dados revelados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), do total de 456.310 candidaturas registradas no Brasil em 2024, 155 mil foram de mulheres e 301.310 de homens. Desse total, 74.355 são mulheres não negras, 80.645 mulheres negras. O relatório revela, ainda, que a cada quatro candidatos brancos eleitos, apenas um é negro, confirmando a desigualdade no acesso aos espaços de poder.
Em comparação com as eleições de 2020, o número de mulheres eleitas aumentou em 2,2%, passando de 15,7% para 17,9% do total. Apesar desse avanço, as mulheres ainda estão sub-representadas na política, ocupando menos de 18% das vagas disponíveis.
Historicamente, o racismo foi um obstáculo para a ascensão política de mulheres negras. De acordo com dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a cada 100 candidaturas de homens brancos, apenas 30 mulheres negras se lançam ao pleito. Essa disparidade evidencia um cenário adverso que requer ação e atenção.
As candidatas negras enfrentam desafios ainda mais significativos: de quase 80 mil candidatas, apenas 7,19% conseguiram ser eleitas. Enquanto uma em cada dez candidatas brancas alcançou uma cadeira, essa proporção cai drasticamente para uma candidata negra a cada 26.
As eleições de 2024 trouxeram à tona personagens que representam não apenas a luta contra o racismo, mas também a defesa dos direitos humanos, inclusão social, e a luta por um Brasil mais justo. Entre elas, destacamos:
Como mulher negra no estado com a maior população negra do país, Juliana Grande, vereadora mais votada em Santo Amaro (BA) nas últimas eleições, conta que sua principal motivação para entrar na política foi a baixa representação feminina em sua cidade: “Minha maior motivação foi a busca pela equidade. É inadmissível que meu município tenha apenas uma mulher como representante, sendo que somos maioria entre as eleitoras. Nas últimas eleições, conseguimos eleger duas mulheres. Embora ainda não seja o ideal, já sinto que estamos avançando”.
A participação crescente de mulheres negras nas eleições de 2024 é um sinal de resistência e resiliência. Mesmo diante de um panorama desafiador, elas estão construindo um caminho para um futuro mais representativo. As redes sociais desempenharam um papel crucial nessa visibilidade, permitindo que essas candidatas alcancem um público mais amplo, especialmente entre os jovens.
A sociedade precisa compreender que a política é uma construção coletiva, feita por todos e para todos. Quando iniciei minha trajetória política, sabia que precisava encontrar um partido que reconhecesse meu potencial, independentemente da cor da minha pele. Foi assim que encontrei acolhimento no Solidariedade, um partido que se destaca por promover uma das mais abrangentes formações políticas para mulheres no país, o Lidera+. Tive a oportunidade de participar desse programa em duas edições, conta a prefeita eleita de Parnamirim (RN), Professora Nilda.
Não podemos mais ser invisíveis. Hoje, percebo um aumento significativo na participação das mulheres na política. Criamos grupos de discussão que fomentam o empoderamento feminino em diversos espaços e já notamos que as mulheres estão se tornando mais ativas, explica Juliana.
À medida que o Brasil avança, é indispensável que reconheçamos e apoiemos essas vozes que não apenas aspiram a representar, mas também a reconstruir a narrativa de um país mais inclusivo. O olhar atento da sociedade e das instituições será fundamental para garantir que as conquistas de hoje abram portas para as lideranças do amanhã.